Loucura Verde

Loucura Verde:

 Nas longas noites em que eu me enveneno,  
cigarro a espiralar sobre cigarro,
traz-me a saudade o teu perfil bizarro,
que eu não sei mais se é louro ou se é moreno.

Não é bem um perfil, mas um pequeno
alvoroço de névoas, um desgarro
de linhas onde, surpreendido, esbarro
com o teu olhar a me sorrir, sereno.

Depois teu vulto se dilui aos poucos,
mas teus olhos febris, como os dos loucos,
ficam parados, mortos, ante os meus.

- Verdes, curvos cristais, por onde eu vejo
monstros verdes passando num cortejo,
sob um sol verde como os olhos teus.

Afonso Schmidt