Análise do conto Venha ver o pôr do sol

Análise do conto Venha ver o pôr do sol, de Ligya F. Telles:

Francisca Jociane Pereira Amorim

Narrado em terceira pessoa o conto traz um elemento que está em destaque na obra que é a questão da vingança por parte de uma das personagens principais, Ricardo, que fora abandonado por Raquel, e agora almeja vê-la pagar por tê-lo trocado por um pretendente com posses. A história usa como cenário um cemitério que remete ao fantástico, e traz para o conto um tom de mistério e obscuridade.

É um texto que remete às relações e emoções humanas, retratadas através da dor de Ricardo com o término de seu romance com Raquel e seu sentimento de vingança, ao conduzi-la pelo cemitério no intuito de trancá-la, sofrendo ainda influência do simbolismo, quanto ao subjetivismo e temática satânica pelo fato de se passar num cemitério. Podemos destacar ainda a ausência de valores, hiper-realismo, liberdade artística, imaginação e criatividade, e realidade ambígua e multiforme, presentes na obra.

Possui como característica marcante o realismo fantástico, fazendo menção ao sobrenatural, ao subtender a presença de fantasmas no cemitério, que representa a questão ainda dessa mistura do real e do imaginário, trazendo o fantasioso e sombrio para a história. É uma narrativa que prende o leitor, pelo elemento surpresa do que irá acontecer aos personagens quando chegarem ao seu destino de ver o pôr do sol, consumindo o leitor numa ansiedade e dúvida, que se completam, trazendo um final inesperado e macabro.

Bibliografia para uma Introdução ao Fantástico

(comentada)

BORGES, J. L. O livro dos seres imaginários. Trad. Carmem V. Cirne, São Paulo: Globo, 2000.

Dicionário dos seres fantásticos. Muito divertido e interessante, mas sem aprofundamento teórico.

bravo, Víctor. Los Poderes de la Ficcion. Para una interpretación de la literatura fantástica. Caracas: Monte Avila Editores, 1987.

Relativamente superficial na discussão de Todorov, mas introduz alguns conceitos muito férteis, como o da alteridade. Embora trata da literatura universal, dá mais ênfase à literatura latino-americana. Não existe tradução portuguesa.

chiampi, Irlemar. O Realismo Maravilhoso. Forma e Ideologia no Romance Hispano-Americano. São Paulo: Perspectiva, 1980. (Col. Debates).

Trabalha menos a literatura fantástica do que o assim chamado realismo mágico no romance hispano-americano. Nessa área é o clássico em língua portuguesa.

Furtado, Filipe. A Construção do Fantástico na Narrativa. Lisboa: Horizonte, 1980.

Escritor português, segue basicamente Todorov, mas aprofunda alguns aspectos.

JACKSON, Rosemary. Fantasy: The Literature of Subversion. London: Routledge, 2003.

Faz uma abordagem psicanalítica do fantástico. Um tanto reducionista, vê o fantástico como expressão de desejos reprimidos. No entanto, faz uma crítica inteligente de Todorov e traz muitas observações interessantes. Não existe tradução portuguesa.

LURKER, Manfred. Dicionário de simbologia. Trad. de Mário Krauss, São Paulo: M. Fontes, 1997.

Prático, barato e muito bom. Todo profissional de Letras deveria te-lo em casa!

todorov, Tzvetan. Introdução à Literatura Fantástica. Trad.: Maria Clara Correa Castello. São Paulo: Perspectiva, 1992.

Ainda o clássico da teoria do fantástico. Geralmente pode-se dizer que Todorov conseguiu sistematizar (quase) tudo que era importante nos teóricos anteriores, e construir uma teoria convincente. No entanto, sua obra revela algumas fraquezas: a desconsideração da psicologia, a limitação diacrônica do gênero e o problema do leitor implícito, que torna sua teoria difícil de aplicar.

vax, Louis. A Arte e a Literatura Fantásticas. Trad.: João Costa. Lisboa: Arcádia, 1972. (Biblioteca Arcádia de Bolso, 146).

Precursor de Todorov, e hoje basicamente ultrapassado. Discute o fantástico a partir de motivos. Um dos poucos que tratam de outras formas de expressão artística do fantástico, a não ser a literatura.

wünsch, Marianne. Die Fantastische Literatur der Frühen Moderne. München: Wilhelm Fink Verlag, 1991. Estudo sobre a teoria do fantástico e a literatura fantástica alemã no início do século XX. Insiste na diacronicidade do fantástico e cria categorias históricas, sociais e culturais para a avaliação do acontecimento insólito. Não existe tradução portuguesa.